
É Natal !!
Por: Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite *
O espírito natalino é mágico, ainda que tenha sido apropriado por uma voraz indústria de consumo, ele segue, pelos séculos, acolhedor, pois, em sua essência cristã, representa o amor universal.
A ideia de uma noite especial se perde na imensidão do tempo e no imaginário humano, mas seu sentido fraterno e festivo segue presente no calendário e na alma, embora as vicissitudes inerentes à condição humana.
Papai Noel, em sua indumentária mais conhecida no Planeta, foi criado, em 1886, pelo caricaturista e cartunista Thomas Nast (1840-1902). Ao criar o bom velhinho, o alemão Nast se inspirou no bispo São Nicolau, de Myra (Turquia) que viveu, no século IV, na Ásia Menor. Nascido na cidade portuária de Patara, ele tinha por hábito presentear as crianças e ajudar os pobres. No ano de 1931, uma campanha publicitária, liderada pela Coca-Cola, divulgou o Papai Noel com o figurino criado por Nast, cujas cores eram as do refrigerante. A campanha publicitária teve um enorme sucesso, ajudando a difundir a imagem do Papai Noel pelo mundo. Nos Estados Unidos é conhecido como Santa Claus e em Portugal é o Pai Natal, tendo também outras denominações noutros países. O nome “Noël”, em francês, é Natal.
Considerado o padroeiro dos marinheiros, São Nicolau, de acordo com os devotos, tinha o poder de deter as tempestades. Além desta atribuição, São Nicolau é também o protetor das donzelas e dos estudantes. Reza a tradição de que o bispo teria salvo da prostituição três donzelas pobres e órfãs, oferecendo uma quantidade de ouro a cada uma. Este presente se constituiu num dote que garantiu um bom casamento às jovens, afastando-as do estigma da miséria. Segundo a tradição, São Nicolau teria materializado o ouro dentro das meias que as órfãs haviam colocado para secar perto da lareira.
A imagem paternal de um doador de presentes não tem em São Nicolau seu único representante. O Natal, na realidade, é uma mistura de tradições, cujas origens são diferenciadas, entrelaçando-se, ao longo dos séculos, numa festa fraterna e de caráter universal. Cada cultura, envolta na fé do nascimento do salvador, outorgou-lhe características, mitos próprios e locais. Na Alemanha, Papai Noel se mesclou com Weihnachtsmann que se diferencia do “Velho Noel” pelo fato de estar sempre irritado, por carregar os pesados baús cheios de presentes.
Além desta característica, na versão alemã, ele tem a companhia de um homem “escuro” que dependendo do humor persegue e agride com um bastão. Este acompanhante tem vários nomes, sendo os mais populares os de Hans Tuff. Knecht Rupprecht and Buyz, que são representados com um rosto de animal. A associação da figura de cor escura, negra, com o mal, leva-nos a refletir acerca de um componente racista, que deprecia a figura atribuindo-lhe um comportamento socialmente detestável. O fato, com certeza, é passível de um estudo mais aprofundado por especialista nesta área, levando em conta as teorias sobre a eugenia de Francis Galton (1822-1911) presentes no século 19.
Outra curiosidade é a troca de presentes que ocorre na Grécia, em honra de São Basílio de Cesareia. Trata-se de um membro caridoso da Igreja com uma história muito parecida com a de São Nicolau. A troca de presentes se dá no primeiro dia do ano. Já a figura de São Francisco de Assis (1182- 1226) criou o presépio, tendo como objetivo, por meio de esculturas, representar o nascimento do Cristo.
As igrejas cristãs celebram o Natal no dia 25 de dezembro, porém há uma exceção: a Igreja da Armênia. Esta comemora a festa do Natal no dia 6 de janeiro, pois seus seguidores acreditam que o Cristo teria sido batizado nessa data.
No ano de 1971, para surpresa de todos, nos Estados Unidos, o Papai Noel deixou de lado o seu trenó e surgiu no horizonte dentro de um helicóptero e desembarcou no supermercado de Fort Lauderdale. Para surpresa do bom velhinho, milhares de crianças, que aguardavam a sua chegada, saltaram sobre ele, terminando por derrubá-lo no chão e logo depois roubaram os presentes. Com certeza, o fato não reflete o espírito natalino e pede uma reflexão quanto aos reais valores que devem pontuar o Natal.
As guerras e a miséria material e espiritual, que, infelizmente, ainda, estão presentes no seio da humanidade, não conseguiram riscar do calendário e do coração do homem o sentimento natalino.
Durante a 1ª Guerra Mundial (1914-1918) – conhecida como a guerra das trincheiras – o Natal de 1916 foi marcado por um fato incomum: os soldados, naquela noite, confraternizaram com os inimigos das trincheiras alemãs. Na manhã seguinte, foi divulgado que os soldados tiveram dificuldades para dar reinício ao conflito bélico.
A responsabilidade, de mudar padrões negativos e de percebermos que as mazelas deste mundo são criadas pela ambição e pelo desrespeito ao próximo, é de foro íntimo e intransferível. A chave está em nossas mãos, para que possamos transformar o que a princípio parece ser uma utopia numa realidade.
Feliz Natal e um 2020 repleto de realizações!
Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite *
Pesquisador e coordenador do setor de imprensa do MuseCom *
Bibliografia
FRIAS, Gustavo. Paradigmas / Mitos Enigma e Lendas Contemporâneas. Rio de janeiro: Editora Século Futuro Ltda, 1988.
LAMAS, Isabel – Tudo sobre o Natal. 2ª ed. Sintra: Impala, 2005.
Site: http://super.abril.com.br/historia/a-verdadeira-historia-do-natal/ Acessado em 18 /12/2019 às 00:34.