
O ministro de Justicia de Brasil Sergio Moro anuncia demissão e deixa o governo Bolsonaro
O ministro de Justicia de Brasil Sergio Moro anunciou esta sexta 24 hoje a saída do governo numa conferência de imprensa em que acusou ao presidente Jair Bolsonaro de interferência política ao exigir a saída do diretor geral da polícia federal Maurício Valeixo.“O grande problema não é quem trocar é por que trocar”, afirmou.
O agora ex-ministro fez um histórico da situação que levou à sua saída: “Fui juiz por 22 anos, antes de ser ministro, e a partir de 2014 tivemos a Operação Lava Jato que mudou o patamar do combate à corrupção, desde essa altura sempre senti vontade de interferência com mudanças na polícia mas o governo da época [de Dilma Rousseff, do PT], apesar de inúmeros defeitos, manteve a autonomia da Polícia Federal e isso permitiu os resultados”, disse Moro depois de lamentar a realização do evento a meio de uma pandemia que até quinta-feira já causara mais de 3000 mortos.
“E permitir que haja interferência política no âmbito da polícia federal. O presidente disse-me que queria colocar uma pessoa dele, com que ele pudesse colher informações, relatórios de inteligência. Realmente, não é papel da polícia federal prestar esse tipo de informação, autonomia da polícia é essencial”, sublinhou ainda Sergio Moro.
“Em final de 2018 recebi convite do então eleito Jair Bolsonaro para ser ministro da justiça e da segurança, onde estabeleci compromisso contra crime organizado, corrupção e crimes violentos. O presidente disse ainda que me dava carta-branca para escolher a equipe e eu aceitei”.
A saída de Moro “é um sinal de uma nova e perigosa fase para o Brasil”, porque “a autonomia da Polícia Federal (e o império da lei) é um fundamento essencial da governança democrática”, alerta Robert Muggah, diretor do instituto de investigação Igarapé, no Rio de Janeiro.
Moro, que abandonou uma carreira de juiz de mais de duas décadas para assumir um cargo no governo, afirmou que além de querer preservar a autonomia das instituições, renunciou para “preservar sua biografia”.